Missão

Promover o alcance ao direito de proteção integral à criança, ao adolescente e ao idoso expostos aos conflitos familiares, através da promoção do conhecimento e desenvolvimento da sociedade.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

REALIDADE DE CRIANÇAS ESTIGMATIZADAS COMO BRUXAS NA NIGÉRIA


Dra. Gabriela Lorenzet, coordenando a Reunião do Instituto Proteger 

Hoje no Instituto Proteger,  ampliamos os nossos conhecimentos sobre a realidade das crianças da Nigéria, que são estigmatizadas como Crianças Bruxas e também conhecemos o maravilhosos trabalho realizado pela Associaçao Humanitária  Caminho Nações. O trabalho foi coordenadado de forma muito emocionate pela Dra. Gabriela Lorenzet, integrante da Comissão de Direitos Humanos do Instituto Proteger.

Segue material  de apoio utilizado e disponibilizado pela Dra. Gabriela Lorenzet.



A bruxificação infantil: as crianças estigmatizadas na Nigéria
Caminho Nações – Projeto Oásis do deserto
Relatos de uma viagem à Nigéria



*Sobre o Caminho Nações:
Somos uma associação humanitária de motivação cristã e sem fins lucrativos que está presente no Brasil e nos confins da Terra. Nossa Missão: Nosso serviço é o anúncio de que Deus já se reconciliou com o Mundo; e o mundo precisa saber disso. Informações gerais: Atuamos em países africanos no resgate, acolhimento, educação e apadrinhamento de crianças em níveis dramáticos de vulnerabilidade social e estigmatização aberrante, que geram abandono, violência e infanticídio. A prevenção ou reversão dessas condições, apesar das sequelas psicológicas, pode evitar a inexorável marginalização juvenil e a infelicidade adulta desses jovenzinhos. Cremos no poder reformador do Amor. Do contrário, humanamente falando, nosso “público-alvo” é predestinado à morte! Quem são? São, atualmente, as vítimas de dois fenômenos catalogados pela ONU (UNICEF): “Crianças-Bruxas” (Cimpric, 2010), com ocorrências principais na Nigéria (África subsaariana) e “Crianças-Talibés” (fenômeno documentado em muitos artigos antropológicos e jornalísticos), com ocorrência quase exclusiva no Senegal (África Ocidental).

*Retirado do site da Associação.


Relatos da jornalista Tatyana Jorge, que participou da comitiva à Nigéria no mês de Julho de 2013. Ela se descreve como: Tatyana Jorge: era uma vez uma jornalista que virou uma missionária.

Parte 1
Não tenho o hábito de escrever muito neste espaço (facebook), mas tenho passado por experiências tão incríveis que resolvi dividi-las com vocês. Por isso, a partir de agora, vou contar-lhes pelo que estou passando na África. Começo explicando por que vim. Tem uma associação humanitária brasileira, chamada Caminho Nações, que tem um braço em Santos, minha cidade querida. Eles vieram para cá primeiro para lutarem contra uma coisa absurda que é a ideia de crianças bruxas. (Acredita que tem pai que tortura e até mata o próprio filho só porque alguém disse que ele é bruxo?! E mais, ser bagunceiro já é um motivo para ser considerado bruxo!) Os voluntários brasileiros e alguns amigos nigerianos continuam nesta luta, e agora assumiram um orfanato, que também tem crianças consideradas bruxas. Pois bem... Conheci o trabalho no Brasil, me apaixonei, e fiz de tudo para acompanhá-los. Queria ver de perto se tudo aquilo era verdade, e mais, se fosse, mostrar as pessoas aquele trabalho tão importante para salvar vidas, que sem eles, certamente não durariam muito. Vou começar contando da viagem. Não tem voo direto Brasil / Nigéria. E para a passagem sair mais barata, a conexão foi em Dubai. Foram 14 horas dentro do avião. Chegamos lá e tínhamos 8 horas até pegarmos o próximo avião.
Então percebemos como seriamos vistos dali em diante. Estavam nigerianos, indianos (que trabalham nas empresas de petróleo, na Nigéria) além dos chineses, (que são mão de obra no país.). Brancos, apenas nosso grupo. Branca, só eu. A única mulher. Todos me olhavam como se fosse um extra terrestre, e confesso que não liguei. Estava preparada para o que viesse, e sabia que muita coisa ainda iria acontecer.

Abro agora um parêntese porque preciso contar para vocês que há um ano, quase por acaso, conheci o projeto do Caminho Nações para salvar as ditas crianças bruxas. Naquela ocasião, disse ao coordenador da missão, Marcelo Quintela, que gostaria de acompanhar o trabalho na Nigéria e ele disse que nunca levaria uma mulher até lá porque é muito perigoso. Há assassinatos e estupros demais. Além disso, sequestrar uma mulher branca pode ser um bom negócio por lá. Rende um bom dinheiro. E é um país em que as leis não são muito respeitadas. Fora a corrupção, todo mundo cobra propina, que é quase legalizada.
Tanto desejei conhecer tudo isso, que depois de muito tempo, sou a primeira mulher que vem do Brasil acompanhando uma missão. E logo mais vocês vão entender melhor porque é tão difícil...Aliás, não há seguro para o local para onde vamos, e os sites de viagem dizem para "nunca ir para lá". Perigoso? Um tantinho...
No dia em que cheguei a Lagos, começou efetivamente uma aventura. Foram quase três dias viajando para encontrar uma cidade caótica, onde os policias gritam toda hora, usam metralhadoras, apontam-as para você e ainda cobram "uma ajudinha em dinheiro para que fiquem mais felizes". E isso só para você poder passar pela rua, sem fazer nada errado. Aliás, o Felipe Nogueira, educador que está conosco, estava gravando as ruas, de dentro do carro, e de repente viu um policial urrando e apontado à arma para ele.
Isso porque para sairmos do aeroporto, com malas cheias de doações, tivemos que pagar propina. E era tudo legal! Não tínhamos nada que não fossem roupas, brinquedos e sapatos!
Mas ali também descobri que estava diante de um povo cheio de contrastes. Muita pobreza, trânsito caótico... Mas pessoas maravilhosas. Ficamos hospedados as primeiras horas na casa de Karen e Bosco. Ela brasileira, ele nigeriano. Os dois se conheceram no Brasil e tiveram dois filhos, que hoje só falam inglês e que passaram a tarde com a gente enquanto fazíamos corações para a Ação do Coração que vai acontecer aqui na Nigéria também. A Karen fez um peixe delicioso, com salada e arroz, com cheirinho e gostinho de Brasil. Depois de quase de 40 horas sem comermos direito, nem dormimos deitados, (só cochilos sentados nos aviões) aquilo foi maravilhoso.
Como precisávamos avisar nossas famílias que apesar de tudo, estávamos vivos, fomos para um hotel (bem simples), para usarmos a internet. Um policial viu que eramos brancos dentro do carro e impediu nossa passagem querendo dinheiro, mas Bosco, nigeriano, conseguiu contornar a situação. Dormimos apenas 4 horas, afinal, no dia seguinte pegaríamos outro voo, agora mais curto, até, Uyo, capital do estado Akwa Ibom, no sul da Nigéria. Lá muita gente pediu para tirar foto com os "brancos". Curioso, né? E eu que estava impressionada com as roupas coloridas e turbantes das mulheres. Tudo muito bonito.
 
Hora de encarar a estrada até Oron, uma base da associação humanitária Caminho- Nações, e lá eu conheci a história de uma família que me chocou... Mas isso conto para vocês depois...
Saibam que aqui estamos todos muito felizes por podermos fazer alguma coisa por estas crianças que não têm quem olhem por elas. Um grande beijo a todos.
Parte 2
Chegamos em Oron, o "olho do furacão" quando o assunto é "criança bruxa". Não foi a toa que o local foi escolhido para abrigar a primeira base do Caminho Nações. O local simples, logo virou uma referência para quem "descobre" que tem um filho bruxo e não sabe o que fazer. E também para pessoas que vêem crianças sendo torturadas e querem pedir ajuda. Assim, muitos e muitos casos são descobertos pelos voluntários brasileiros.
 Logo que chegamos fomos visitar uma família ajudada pela associação humanitária. Os pais a procuraram porque alguém disse que as duas filhas mais velhas eram bruxas. Léo, ( Leonardo Rocha dos Santos) o diretor do projeto na Nigéria, foi logo dizendo que isso não existe e por que é mentira.
 Aqui preciso explicar como nasceu esta história de crianças bruxas. Não é algo que existe desde os primórdios na Nigéria. Pelo contrário, é um fenômeno até recente. Quando a família tem algum problema, seja qual for, doença, pobreza, os pastores da igreja dizem que a culpa é da criança que é bruxa. Para que ela deixe de ser, os pais precisam pagar um valor alto demais para o pastor (pastores evangélicos neo-pentecostais) fazer uma espécie de exorcismo. Que inclui atos de tortura como furar cabeça da criança com pregos e jogar água fervendo nela.
Quando a família não tem dinheiro, ela mesmo tem que dar fim a criança, para que a vida de todos volte a melhorar.
O que o Léo explica a eles, todos cristãos, é que Jesus nunca faria mal a crianças e usa trechos da bíblia para comprovar isso. Um trabalho que precisa ser feito com os pais, e com toda a comunidade em volta. Desta maneira ele não só evita que a criança sofra, como permite que ela continue perto dos pais e irmãos.
No caso que comecei a narrar lá em cima, Léo não se contentou em convencer a família de que as filhas mais velhas eram normais. Ele também quis conhecer a casa onde a família morava. E lá descobriu dois bebês, gêmeos, extremamente magros, jogados no chão, cobertos de urina e moscas. Para a família, eles estavam assim por causa da bruxaria das meninas mais velhas. Para Léo, e para o médico que ele levou lá, as crianças estavam assim por causa da desnutrição. Foi então que associação humanitária passou a ajudá-los com comida apropriada.
Nesta nova visita a casa deles, os gêmeos, já estavam bem melhor. Um deles consegue até dar os primeiros passos. Uma alegria para aqueles que tanto têm lutado para salvar aquelas vidinhas.
E sabe quais são os nomes dos bebês? Promisse e Praise. O que significa Promessa e Louvor.
Mas esta não é a única história a ser contada... Um pouco mais afastado dali fui conhecer Emília, uma menina que não podia andar, e que tinha uma corcunda. O pastor não a acusou de bruxaria, mas sim ao irmão dela, que quase foi degolado. Quando isso iria acontecer, um bom samaritano chamou o pessoal do Caminho - Nações, e o jovem foi salvo. Léo levou a menina ao hospital e descobriu que ela tinha tuberculose óssea. Tratou, e a garotinha que conheci, hoje anda perfeitamente e não tem mais a corcunda. Já o menino, eu o vi pedir aos voluntários para ser levado para o orfanato porque não aguenta mais sofrer com o preconceito da comunidade que ainda acredita que ele seja bruxo. Você consegue imaginar isso? Uma criança pedindo para ficar longe das pessoas que ama porque os outros a volta a maltratam demais? Pelo menos no orfanato, ele vai ter a chance de estudar e não será mais visto como um bruxo. Os voluntários aceitaram, mas ele vai continuar visitando a família, e quando for possível, voltará para casa. Enquanto isso a associação humanitária paga o aluguel e a alimentação daquela família miserável.
*Pausa para o vídeo da Emília
Há ainda a história de Michael, muito, mas muito mais triste... Que eu conto para vocês depois porque agora estou muito emocionada para continuar escrevendo. Beijos a todos, repletos de carinho.
Parte 3
Michael também foi considerado uma criança bruxa, e o pior, pelo próprio pai que se diz uma espécie de sacerdote. O tio tentou matá-lo com uma machadada, e foi assim, com um grave ferimento na cabeça que Michael conseguiu fugir e foi pedir socorro na base do Caminho - Nações, em Oron.
Muito ferido, ele foi recolhido e cuidado pelos voluntários. Mas a polícia obrigou o pai a receber de volta o filho. Então, a equipe brasileiro iniciou o trabalho de convencimento da família de que criança nenhuma é bruxa.
Tempos depois, como sempre acontece, voltaram para ver como estava o menino, e para tristeza deles, o encontraram todo sujo de lama, e os vizinhos disseram que o pai saia para trabalhar de manhã e colocava o Michael na rua, sem nada para comer ou beber. O menino ficava próximo a sua casa até que seu pai voltasse a noite. Na rua continuou sendo alvo de preconceito. Como não tinham a posse legal de Michael, o Caminho-Nações denunciou o pai às autoridades, e os brasileiros tentaram conseguir algum documento do governo que os possibilitasse salvar o menino.
Mas não deu tempo. Assim que voltaram, o jovem já tinha desaparecido. Ninguém sabia dele. Por meses, Léo andou pelas redondezas em busca de notícias, até que alguém disse que o menino já estava morto.
O mundo dos voluntários desabou. Como assim alguém o teria matado? Era apenas uma criança? E o Caminho - Nações já tinha mostrado que queria ajudar!
Mas eles não se deram por vencidos. Eu os acompanhei quando voltaram ao vilarejo do pai de Michael. Um lugar muito pobre, onde a nossa chegada fez com que quase toda a população do local viesse ao nosso encontro. Todos nós sentíamos que estávamos em perigo. Ligar a câmera ali foi muito arriscado, mas eu não podia perder esta chance.
Comecei então a me aproximar das mulheres. Gravei suas roupas diferentes, os penteados elaborados, disse que as achava bonitas, e assim o ambiente ficou mais simpático, pelo menos para mim.
A minha frente estavam o Léo, Marcelo Quintela, Ruan (todos voluntários) conversando, ou seria discutindo, com o pai de Michael. A cada desculpa que o homem arrumava para o desaparecimento do filho, os brasileiros ficavam mais indignados. Logo ficou claro que eram muitas mentiras, porque eram muitas as contradições também.
Graças a simpatia das mulheres, comecei a gravar aquela cena, mesmo percebendo os olhares nada amigáveis de muitos que ali estavam. Me sentia protegida por elas de alguma maneira.
Ficou decido então que iríamos a casa na mãe de Michael, que fica em um outro vilarejo. O pai foi nosso guia. Pensado bem, agora, percebo a loucura que fizemos. Seguimos um homem que não gostava de nós, claramente mentiroso, que pode ter matado o próprio filho, por caminhos fechados, no meio do nada. Poderíamos nos tornar vitimas também. Mas ninguém pensou nisso naquela hora. A vontade de encontrar Michael era tamanha que só a possibilidade disso acontecer já nos deixou empolgados.
Chegamos onde o carro não mais podia passar. Agora teríamos que continuar a pé. Até muros pulamos. Nem o pai do menino parecia saber ao certo onde estávamos indo. Quando encontramos a casa, fomos recebidos pela a avó materna de Michael. Lá dentro a mãe se escondia, e depois de muita insistência, veio falar com a gente.
Logo a vó, mãe e pai estavam discutindo. E sabe por quê? Porque nenhum deles sabia de Michael, nem o tinha procurado, nem queria saber o que tinha acontecido com ele! Apenas nós estávamos preocupados. Dá para acreditar. Saímos de lá, ainda acompanhados pelo pai, e percebi a tristeza nos olhos mareados de Léo. Marcelo começou a discutir com o pai, dizendo que ele nunca deveria ter desistido do filho. Tudo isso aconteceu no meio do nada.
De repente percebi quanto perigo corríamos, e caminhamos em passos acelerados até o carro. Agora não teríamos mais o pai de Michael como guia, e mal sabíamos sair de lá.
O homem continuou gritando, e os brasileiros se encontravam em um misto de revolta e tristeza por terem certeza de que Michael já não poderia mais ser salvo. Ou será que agora, ao lado dos Anjos, ele não está melhor do que naquele lugar, cercado por aquelas pessoas que tanto o maltrataram? Esse era nosso único consolo....

Parte 4
Chegamos em Eket quase no final do dia. Mas o sol ainda nos fazia companhia. Eu não sabia, até então, o quanto sentiria falta dele dali a pouco.
O caminho para o orfanato é de terra, no meio de muito mato e poucas casas rústicas. Os portões de abrem e me deparo com uma multidão de crianças correndo em nossa direção. Elas nunca tinham me visto, nem eu a elas, mas já sentia tanto amor direcionado a mim, que foi impossível não começar a ama-las já naquele instante.
Eram muitos os abraços, e confesso que meus olhos ficaram mareados. Contive as lágrimas. Não queria que os voluntários achassem que era fraca. Eu, a única mulher entre eles. Me esforçava para ser vista e tratada como uma igual. Não daria trabalho, não teria frescura, não seria emotiva de mais. Acho que consegui tudo isso, menos a parte em que controlaria meus sentimentos. Para falar a verdade, eles estavam a flor da pele. E um simples sorriso de uma criança, associado a um par de braços abertos em minha direção, já era o suficiente para minha alma parecer não caber em meu corpo.
Mal sabia eu, que em muitos momentos, viria a presenciar os brasileiros emocionados. E o mesmo aconteceu com os nigerianos que os acompanham nesta batalha para salvar vidas.
Ali, parada e cercada por sorrisos infantis, percebi quando logo as meninas começaram a mexer nos meus cabelos, diferente dos delas. Brinquei de coloca-los na cabeça das crianças para ver como ficariam, e elas adoraram.
 As unhas pintadas também chamavam a atenção. Diziam nunca ter visto esmalte e naquela hora decidi que nos dias seguintes elas estariam com as unhas também pintadas. E foi o que fiz.
A noite chegou mansa para quem observava tudo com tanta atenção, como eu. E com ela veio a escuridão. Não havia energia elétrica, apenas quando o gerador era ligado, e isso só iluminava os quartos das crianças, não o local onde dormiríamos.
A escolha do cômodo foi feita de maneira muito prática. Onde estava vazio e tinha menos cheiro de mofo. O quarto pequeno nos fundos do orfanato abrigou a todos nós em colchões no chão. A escuridão era tamanha que ninguém pôde tomar banho, e nos deitamos, exaustos, com a roupa do corpo. Logo teríamos visita. De muitos, muitos mosquitos. E eles pareciam famintos. Juan, que já participava da segunda missão a Nigéria, foi esperto ao levar uma rede para cobrir o corpo. Porque coberta naquele calor só atrapalhava. E alguns dos voluntários dormiram. Dois deles, (que por uma questão ética não vou citar nomes, rs), estavam tão cansados que logo começaram a roncar. E eu pensei: "Dormir no chão, no escuro, sem banho, com mosquitos, tudo bem. Mas ronco, não!" E ri sozinha. A conversa era agradável, o aprendizado, incrível. Mas todos precisávamos descansar para aguentarmos os desafios do dia seguinte. Foi então que lembrei do remédio que tomei no avião para dormir. Engoli um, e dormi como um anjo. Feliz por tudo que estava vivenciado e ansiosa pelo que aconteceria no dia seguinte...
Parte 5
Eu estava brincando com algumas crianças, quando Diana me chamou. "Quero que você conheça uma pessoa muito especial", disse a funcionária nigeriana contratada pela Associação Humanitária Caminho-Nações para coordenar tudo por aqui na ausência dos voluntários.
Vi quando uma jovem grávida se aproximou com um sorriso tímido e cabeça levemente baixa. -"Esta é Imeh". E assim, fui apresentada a uma adolescente de 15 anos, mas com uma história de vida de alguém de 50. Uma história que estava prestes a me deixar boquiaberta.
Imeh foi considerada bruxa ainda muito menina. Expulsa de casa pelos pais. Na rua, foi vítima de homens que abusaram dela sexualmente. Até que um dia conheceu um casal que queria "ajudar". Assim mesmo, entre aspas, porque levaram a jovem para morar com eles, em troca de alguns favores. Quando Léo, o voluntário brasileiro, chegou lá, Imeh vendia drogas para o casal. Foi então que começou a luta para salvar aquela adolescente.
Mas antes que algo pudesse ser feito, ela descobriu que estava grávida do namorado, um rapaz da vila. Chegou a tentar o aborto, mas por sorte não conseguiu matar o bebê.
O "Super Léo" entrou em ação novamente. ( Sim, porque não são os super heróis que salvam vidas?)
Ele conversou com a família do rapaz e conseguiu convencê-la a abrigar Imeh e o filho que espera. Agora ela não só tem uma família que a ama, como é tratada como filha.
Ouvi isso da boca dela. Sorrio só ao lembrar da cena. Adoro finais felizes, ainda mais em um lugar como este, em que eles são tão raros.
Parte 6
Os primeiros raios de sol já iluminavam o céu quando acordamos. Um cheiro muito ruim tomava conta do ambiente. Descobrimos que vinha da fossa, que estava transbordando. Léo correu com o pessoal para resolver o problema, mas foi preciso chamar um caminhão para fazer a limpeza. Um gasto inesperado para os voluntários, mas muito necessário.
Já tinha ouvido falar da cozinha do orfanato, muito mal por sinal. Curiosa, fui conferir pessoalmente. E que susto! Aquele lugar nem poderia ser chamado de cozinha. Era um cômodo, coberto de fuligem, com pedaços de madeira, que unidos viravam uma fogueira. Era assim que a comida era feita. Fiquei ali, parada por alguns instantes, só pensando, e quando me dei conta, vi um dos meninos entrar carregando vários galhos repletos de folhas verdes. Pensei que eles demorariam muito para pegar fogo. Deveriam estar secos para serem usados. Foi então que me surpreendi com o destino daquilo. Uma mulher, a cozinheira do orfanato, passou a separar as folhas dos galhos. As cortou, como fazemos com a couve-mineira, amiga inseparável da nossa feijoada. "Ahhh uma feijoada...", pensei saudosa. Mas logo voltei a prestar atenção no que acontecia a minha frente. Vi, então, um outro menino pegar as folhas cortadas e colocá-las em um pilão. Aos poucos aquilo virava um creme verde, que depois foi colocado no arroz, cozido em uma espécie de panela ( sei lá que nome dar para aquilo). Tudo foi para a fogueira, que um terceiro menino mantinha acesa abanando. E desta maneira foi preparada a comida das crianças. Vai ser assim pelo menos até a nova cozinha ser construída com o dinheiro doado por brasileiros. Vai ter fogão e até mesas e cadeiras! Um avanço e tanto por estes lados.
Mas como ela ainda não estava pronta, continuei observando a rotina por ali. Pratos cheios, os pequenos se sentaram no chão, espalhados por todo o orfanato, e passaram a comer com as mãos. Que aperto no peito senti. Confesso que naquele dia, não consegui comer nada. Simplesmente não descia a comida.
Ao ver crianças se alimentarem daquele jeito, perdi a coragem de comer algo melhor. Achava injusto. E também não podíamos nos arriscar comendo aquilo, pois tínhamos muito trabalho pela frente e não nos daríamos ao luxo de ficarmos doentes, por nossos corpos não estarem habituados a determinados alimentos. Os voluntários perceberam que eu mal conseguia ingerir algo, e preocupados, passaram a insistir para que eu me alimentasse. Percebi que deveria obedecê-los quando comecei a ter dificuldade para me concentrar durante uma gravação. O voluntário Felipe Nogueira foi logo dizendo da importância de eu me manter em pé. Ouvi atenta aquelas sábias palavras. Meu cérebro estava convencido, mas meu coração ainda não.
A noite chegou e o Marcelo Quintela disse que iríamos comer algo, porque ninguém da equipe tinha almoçado. (O que se repetiu todos os dias da viagem. Quando voltei, tinha até esquecido o significado da palavra almoço.) O coordenador geral do Caminho - Nações, falou de uma rede internacional de lanchonetes, que também tem no Brasil, e eu até me empolguei com a idéia. Mas quando chegamos... Era uma lanchonete tipicamente nigeriana, que servia algo como pedaços de frango e arroz, com muita, mas muita pimenta. Aliás, bota pimenta nisso.
Percebi o sorriso dos voluntários com a minha decepção, diante da "pegadinha" deles, e sorri também. Já no balcão, prestes a pedir o que comeria, vi uma espécie de tortinha. A atendente me disse que tinha de peixe e de frango. Escolhi a primeira opção, e, apesar da pimenta, a "fish pie" até estava gostosa. O único inconveniente eram as inúmeras espinhas que eu encontrava entre uma mordida e outra. E foi aquilo que comi durante todos os dias em que lá estive. Aliás, isso, pão e as benditas barrinhas de cereais que levei, seguindo a sábia recomendação do Marcelo Quintela.
As barrinhas também fizeram a alegria da criançada. Toda vez que comia uma, me sentia culpada, e tirava várias da mala para os pequenos. Eles dividiam harmoniosamente. Coisa, que confesso, raramente ter visto acontecer em um grupo grande de crianças. Elas costumam brigar em uma situação como esta. Mas ali, todos ser tratavam como irmãos. Me impressionei com a cena.
A maior prova de que eles agiam sempre assim, veio no dia seguinte. O Bobo, um menino com uma história muito triste, que conto depois, estava sempre rodeando os voluntários. Ele é simplesmente apaixonante. Pequenino, ainda. Mas "marrento", que só ele. "Se acha", como diríamos no Brasil. Está sempre sorrindo, e anda de um jeito "bonachão". Lindo demais.
Um dia, ele saiu desfilando pelo orfanato com uma garrafa de água e algumas bolachas dadas pelos voluntários. Uma gracinha. E nenhuma criança brigou com ele pelas guloseimas. Ficaram quietinhas, apenas olhando.
Ainda narrando estava viagem gastronômica pela Nigéria, preciso contar sobre o dia em que, no caminho de volta de uma visita a famílias assistidas pela associação humanitária, paramos em uma praia. Tão diferente... O mato alto quase não nos deixava ver o mar em alguns trechos. Chovia e já era noite. Paramos em um espaço construído com madeira e coberto com sapê ou algo parecido. Para quem mora na Baixada Santista, aquilo era uma versão bem piorada dos nossos tão queridos quiosques.
Tínhamos comprado as, já muito admiradas por mim, tortinhas. E faltavam as bebidas. O único refrigerante que tinha era horroroso... E olha que meu grau de exigência estava bem baixo a esta altura. Quando mordi a bendita tortinha, senti algo estranho, e tirei da boca quase que o pé inteiro da galinha! Ri demais. Mas o pior era o que estava por vir. Sabe aqueles vendedores ambulantes que desfilam pelas praias com camarão no espeto? Pois é. Lá era lesma no espeto. O voluntário Felipe quis provar. E disse que só sentiu o gosto da pimenta. Eu não arrisquei, não. Só fiz charme para a foto.
Estava com vontade mesmo era de comer um chocolate. Mas este era um sonho que deveria esperar para concretizar. Pensei em como as crianças ficariam felizes se, em minha próxima viagem a Nigéria, eu levasse várias caixas de bombons. Já imaginou a festa?! Então lembrei de algo que o Marcelo, voluntário, salvador de crianças, pai, marido, professor e dentista nas horas vagas, havia me dito. Ele olho as boquinhas de todas as crianças, e mesmo sem elas terem noção do que é escovar os dentes, nenhuma tinha cárie. A cultura muitas vezes é sabia. A alimentação delas, tão estranha para mim, as protegia das terríveis dores de dente...
Parte 7
O dia seguinte seria de emoções fortes. Eu já tinha percebido que as crianças ajudavam a lavar as próprias roupas, em bacias. Depois, tudo ficava em varais, ou esticado no chão, mesmo. Eram poucas peças. Quase o suficiente para elas vestirem uma roupa, enquanto outra estava lavando.
Tinha chegado a hora de entregar as crianças os presentes que vieram do Brasil. Coisas lindas! Voluntários "adotaram" cada uma e montaram pacotes de presentes com roupas, sapatos e brinquedos.
O problema é que, por causa da imigração, tivemos que desfazer os pacotes, e colocar as doações todos misturadas nas malas, que ficaram lotadas.
Era chegado o momento, então, de refazer os pacotes de presentes. Uma missão para ... euzinha. Escolhi um cômodo maior no orfanato, cobri o chão sujo com lençóis para não sujar os presentes, e comecei a separar tudo por idade, de acordo com a lista das 58 crianças que tinha em mãos. Mas era muita coisa! Os outros voluntários também trouxeram muitos presentes. Naquele momento chegou mais um brasileiro que tinha vindo ajudar. Thiago Lopes entrou onde estávamos mas não conseguiu ficar muito tempo por causa do cheiro de mofo. Eu já nem sentia mais. Logo Thiago também estaria acostumado. Ele então foi fazer algo importantíssimo, dar atenção as crianças.
Foi quando o Juan e o Marcelo se candidataram para ajudar. E como ajudaram! Logo Itoro, nigeriana contratada pela associação humanitária, também se juntou a nós. O que ajudou muito, porque ela conhecia todas as crianças. Depois vieram ainda o médico nigeriano Tony e a esposa dele Alicja, uma polonesa com um coração gigantesco. Foi dele a idéia de chamar cada órfão e deixar que, não só provassem as roupas e sapatos, mas escolhessem também. E mais. Assim que a criança entrava, ele nos dizia se era estudiosa, obediente ou briguenta. O que valorizou as bem educadas, e fez as mal criadas, diante de tantos presentes, prometerem que seriam boazinhas dali em diante. Funcionou muito bem.
Depois fomos todos ao pátio. E lá, uma a uma, as crianças foram chamadas e ganharam seus presentes. Aquela imagem era de encher os olhos de qualquer um. A alegria que sentiam, emocionante. Ahhh se as pessoas que fizeram as doações pudessem ver isso...
Foi quando o coordenador geral do projeto, Marcelo, me disse algo em que eu não tinha pensando. "É a primeira vez que eles ganham presentes que pertencem a cada um, e não a todos. Isso é muito importante para a formação da personalidade deles. Um momento único."
Os pequenos se espalharam pelo orfanato, mostravam uns aos outros, orgulhosos, o que tinham ganhado. Regina se aproximou de mim para que eu visse o sapato dourado que ganhou. Perguntei se ela tinha gostado. E a resposta me surpreendeu. "Amei. Ele brilha, e ainda serve em mim", disse. Ela estava feliz porque o sapato servia!
Parte 8
As surpresas continuariam para os pequenos. Do Brasil vieram cartinhas de crianças de uma escola de São Paulo. Elas foram trazidas pelo voluntário Felipe. Além de uma mensagem muito bonita, cada uma tinha um desenho diferente, feito pelos alunos brasileiros. Dividimos a equipe e cada voluntário pegou um tanto de carta. Começamos a chamar as crianças. Fomos todos ao pátio, e uma a uma, as cartas foram lidas. O que mais impressionou os pequenos foram os desenhos. Eles mostravam uns aos outros. E riam, riam muito. Como é bom ver a alegria destas crianças com coisas tão simples.
Quando chegamos, antes de entregarmos os brinquedos, vi os meninos se divertindo com pedaços de folhas. Eles trançavam, picavam. Em outro momento, o brinquedo era uma pedra. E até as garrafas de plástico de água eram disputadas pelas crianças.
Vi uma menina escrevendo com um graveto na terra batida, e me lembrei de minha infância na casa de minha avó. Peguei outro graveto e desenhei uma "amarelinha" no chão. No final escrevi "céu". E pensei que aquelas crianças não poderiam ir para outro lugar que não fosse o céu. Elas olhavam curiosas. Fui a primeira a pular para mostrar como era a brincadeira. Elas aprenderam rápido.
Me afastei um pouco e fiquei apenas observando. Os meninos também entraram na brincadeira. Aqui não tem aquela história de que "isso é coisa de menina", "isso é coisa de menino". Aqui tudo é "coisa para fazer a gente feliz. Todos juntos."
Pensei em como o preconceito faz homens deixarem de viver coisas interessantes, porque um dia alguém conceituou que era coisa de "mulherzinha", e como as mulheres fazem o mesmo. Ali, mais do que nunca, vi como somos todos iguais.
A "amarelinha" fez sucesso, e dias depois, quando a Victoria me viu, começou a pular como na brincadeira. Ri muito e ela correu para me abraçar. Ai, que delícia! "Deve ser esta a sensação que as mães dizem sentir quando vêem seus filhos felizes", pensei. Ainda não sou mãe, mas aqui já senti esta plenitude sobre a qual ouvi falar tantas vezes. Uma sensação de que o coração vai explodir de tanto amor.
As crianças estavam ansiosas. Tinham visto as bonecas de pano feitas por mulheres de mãos abençoadas da equipe de Rita de Cássia Barbosa. Perguntavam quando ganhariam as bonecas, e nós resolvemos não fazê-las esperar mais.
Nos reunimos na sala usada para os cultos. ( Aquela parte do país é cristã, e é bom que as crianças tenham algum conceito religioso. A fé sempre é boa companheira.) Colocamos todas as bonecas negras enfileiradas. ( As costureiras tiveram a sabedoria de fazer todas com a mesma cor de pele das crianças. Até os cabelos eram encaracolados. Um capricho, um carinho.)
As meninas olhavam curiosas, e eu fui incumbida de ir lá na frente. Peguei uma boneca nas mãos, a encostei no meu rosto como se a abraçasse e comecei a explicar. "De hoje em diante cada uma de vocês terá uma nova amiguinha. Deverão tomar conta dela e ela tomará conta de vocês. Dormirão abraçadinhas com a boneca, e ao acordarem, a deixarão na cama. Para a noite ficarem juntas novamente.
Fui chamando uma por uma e pedindo que escolhesse a boneca, o que elas fizeram encantadas. Perguntava se tinham entendido e as via abraçando a boneca assim como eu tinha feito. Sim, elas tinham compreendido muito bem. E a confirmação veio a noite, quando fui aos quartos e as vi agarradas as novas amigas de pano. Pela manhã, as bonecas foram deixadas nas camas, (assim não sujariam). Só houve uma exceção. Quando uma das meninas foi almoçar, sentou na cama e colocou a boneca no colo. E para nossa surpresa, comia uma colherada, e fingia dar outra a boneca. Ela estava cuidando da nova amiguinha como eu havia ensinado. Ou estaria seguindo o exemplo dos voluntários que resolveram cuidar daqueles seres pequenos e encantadores?

Parte 9
Depois de um dia tão feliz, era chegada a hora de nos depararmos novamente com a realidade. Analisar a situação de cada criança, caso a caso, e documentar a evolução delas. Foi então que me aprofundei em histórias que chocariam qualquer um.
Começo contando a trajetória da Favour. Uma menina linda e hoje bem falante. Mas não foi sempre assim. Quando chegou ao orfanato, estava tão assustada, que não dizia nem o próprio nome. Ela morava em outro estado, mas um dia veio com a madrasta para uma feira de rua. A mulher disse a menina que iria comprar algo, e que a pequena deveria esperá-la. Mas não voltou mais. Alguém, com dó de Favour, ligou para o motorista do Caminho - Nações contando que ela estava há semanas sozinha, na feira, prestes a ser abusada sexualmente. Se é que isso não aconteceu. Eman, o motorista da associação humanitária, foi resgatá-la e encontrou uma menina assustada e arisca. Foi assim que ela foi levada ao orfanato. No dia seguinte, para surpresa de todos, Favour já tinha amigas e conversava com uma certa tranquilidade. Que bom saber que hoje ela tem um lar.
Outra história que me marcou muito é a da pequena Victoria. O nome cabe muito bem para aquela menina de 6 anos, que parece ter bem menos. Hoje, dona de uma imponente barriga grande, ou "Big Belly", como costumam brincar as amiguinhas, e de um sorriso largo, capaz de encantar a todos.
Mas ela já foi muito diferente. Victoria foi considerada uma criança bruxa. Dava "azar" para os pais e para a comunidade onde vivia. Por isso foi abandonada. No orfanato, na antiga administração , em vez de cuidarem dela, também a excluíram por acreditarem nesta baboseira de que uma criança pode ser bruxa. E pior, entrevistei um rapaz, o Michael, um nigeriano que vez ou outra ajuda os voluntários brasileiros, e ele me contou que um homem, que antes cuidava do orfanato, pegou um facão e ameaçou, ao berros, matar a Victoria até que ela confessasse que era bruxa! O que a pequena menina fez aos prantos, assustada. Depois ela ainda teve que prometer que não faria mais nada ruim acontecer no orfanato. Como se uma criança fosse capaz de atrair problemas apenas com a força do pensamento! "Pobre Victoria", pensei. Mas este nome não lhe foi dado por acaso. Ela realmente é uma vitoriosa.
Quando os voluntários brasileiros chegaram ao orfanato, ela estava muito magra. Doente demais. Foi levada ao hospital, precisou ser internada e passar por uma transfusão de sangue. Itoro e Diana (as nigerianas que trabalham para a associação humanitária Caminho- Nações) e também Juan ( o voluntário brasileiro que está nesta missão com a gente) ficaram ao lado da menina o tempo todo. Estava tão fraca que sequer reclamou da picada da agulha, a pobrezinha. Mas ela se recuperou. E hoje está linda. Esperta, com um olhar expressivo que enchem a lente de qualquer câmera. Por isso fiz muitas imagens dela.
Uma noite, o gerador parou de funcionar, e o orfanato todo ficou no escuro. Aproveitei que não tinha como gravar nada, e a maior parte das crianças estava dormindo, para ligar o computador e começar a escrever algumas matérias. De repente, sinto alguém apoiado no meu colo. Era Victoria. A peguei e ela se acomodou deitando nos meus braços, onde adormeceu por um bom tempo... Lembro do som da respiração dela, das batidas calmas daquele coraçãozinho tão perto do meu, e de agradecer a Deus por poder estar ali, junto dela, enchendo-a de carinho. Algo que falta tanto por estes lados...





Pai decapita filho de seis anos acusado de bruxaria em Akwa Ibom, Nigéria

Felix Lawson, 43 anos, morador da região de Onna,um  distrito do estado de Akwa Ibom, na Nigéria, supostamente decapitou seu enteado de seis anos, Master Effiong Lawson (carinhosamente chamado de Ifanyi). As investigações revelaram que Felix Lawson, que é funcionário do Conselho do Governo local da região ribeirinha de Ibeno, voltou para casa no fim de semana e jantava quando seu enteado entrou no quintal dos fundos e sussurrou para sua irmã mais nova pedindo sobras de comida, pois estava faminto e não comia há três dias. O menino não sabia que o padrasto estava em casa, que havia escutado o sussurro e reconhecido sua voz. O acusado pegou um facão e correu para o quintal. Ifanyi e seu irmão, que o estava ajudando, correram, mas o padrasto alcançou o garoto, atingindo-o com o facão na cabeça. O garoto caiu e o padrasto o decapitou.
Bassey Eshiet, um jovem ativista de Onna contou a história contada por Unyime, o irmão do menino assassinado:
“Nós estávamos com fome e o Infanyi me pediu para ajudá-lo a ir para casa, para que pudéssemos implorar a nossa irmã mais nova por comida. Nós não sabíamos que o papai tinha voltado de Ibeno. Então o Infanyi foi próximo à porta dos fundos e chamou a Unyime (nome mudado) para nos trazer sobras de comida. Já estava escuro quando o papai abriu a porta e pulou para fora, nós corremos, mas meu irmão não conseguiu correr mais rápido. Ele gritava “papai, me perdoe” e o papai bateu na cabeça dele com o facão, ele caiu chorando, mas ele continuou batendo com o facão”
“Eu não escutei mais o choro. Eu corri e me escondi no mato. Mais tarde, no meio da noite quando o lugar estava mais calmo, eu saí e encontrei meus dois amigos na construção da Escola Primária, onde nós costumamos passar a noite. Eu perguntei para eles se tinham visto o Ifanyi, e eles disseram que não, nunca mais tinham visto ele. Pela manhã, vimos muito sangue derramado no lugar onde ele foi pego pelo papai.”
“Mais tarde nós achamos o corpo sem cabeça numa poça d’água parada atrás de um dos prédios da escola, e a cabeça estava numa horta perto da escola…”
O líder da vila de Ikot Ndua Iman, em Onna, Chefe Akpan Eno foi informado do ocorrido e chamou imediatamente a Polícia de Onna que veio, recolheu o corpo decapitado de Ifanyi e prendeu Felix Lawson. Mas no dia seguinte, ele foi liberado e agora é um homem livre andando pelas ruas de Onna.
Fomos à sede da polícia de Onna perguntar por que Felix Lawson não foi acusado de assassinato; fomos informados que o Delegado local estava em viagem oficial, mas o investigador do caso, que pediu para não ser identificado, informou que ninguém se apresentou para depor sobre o assassinato.
Contudo, o ativista Bassey Eshiet informou que as duas crianças e a mãe deram depoimentos em colaboração com a polícia informando que o padrasto matou o menino pois acreditava que ele era um bruxo que havia feito a família cair em pobreza e miséria. Uma mulher que mora próximo a escola disse que escutou o choro de Ifanyi e a voz do padrasto aquela noite, mas achou que era um surra corriqueira nas “crianças-bruxas”, quando eram pegas próximas ao terreno do padrasto.

Publicado no Jornal “GhanaNews” no dia 03 de Julho de 2013

Traduzido por: Gabriel Teixeira | Re-editado por Leo Santos





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