Missão

Promover o alcance ao direito de proteção integral à criança, ao adolescente e ao idoso expostos aos conflitos familiares, através da promoção do conhecimento e desenvolvimento da sociedade.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

INSTITUTO PROTEGER - MOMENTO CULTURAL




      "Amor" - um olhar da psicóloga Silvia Regina Medeiros Zuffo, integrante do Instituto Proteger.

Instituto Proteger - Momento ultural






O Filme “AMOR” conta a história de um casal de octogenários, Anne e George, vivendo suas vidas de uma forma harmônica, com certa leveza e cumplicidade, em um belo apartamento em Paris, demonstrando controle e autonomia sobre suas vidas.  O casal vivia sozinho, uma vida sem amigos e uma relação distante com a filha. Ocupavam seu tempo com atividades que lhe davam satisfação, como a musica e a leitura. Anne tinha sido uma professora de piano, se mostrava uma senhora inteligente altiva, e realizada visto que um de seus alunos havia conquistado fama internacional.
A vida do casal transcorria de forma tranqüila até que tiveram sua rotina quebrada, quando Anne é acometida provavelmente por um derrame (não fica claro de que doença se trata). Quando volta do hospital apresenta o lado direito paralisado, perdendo autonomia e necessitando da ajuda de outras pessoas para desenvolver as atividades da sua vida diária como: tomar banho, cortar alimento, ir ao banheiro, caminhar.  A partir deste evento a vida do casal sofreu grandes e dolorosas transformações, na medida em que necessitaram lidar com as dificuldades resultantes da doença que se fez presente.
A enfermidade de Anne se agravou, sua saúde física e mental se deteriorava, necessitava de maiores cuidados, George mesmo assim decidiu manter o cuidado da esposa em casa. Sua filha questionou sua decisão, mas George mesmo debilitado tentava manter a dignidade de Anne, não permitindo sua ida para um asilo. Mas à medida que o tempo passava, as dificuldades aumentavam e a doença foi consumindo não apenas Anne, mas as esperanças e o tempo do próprio George. 
Este Filme chamado “Amor” pode ser analisado, e compreendido a partir de vários aspectos. Várias questões pertinentes ao envelhecimento foram abordadas. Umas delas é o sofrimento que aflige aqueles que envelhecem quanto o pior de seus temores a falta da saúde física e principalmente mental, resultando numa perda da dignidade. Outro ponto que pode ser observado é a dificuldade que as pessoas, nesta faixa etária, têm de reconhecer suas limitações. Talvez esteja associado ao momento em que estamos vivendo, uma vida baseada na independência, no individualismo, onde temos que dar conta de tudo. Essa dificuldade de pedir e principalmente aceitar ajuda, na sua grande maioria é causador de muito sofrimento.
O casal George e Anne, por opção ou não, viviam uma vida distante de amigos e dos familiares. Enquanto tinham um ao outro parecia que este distanciamento não interferia de forma negativa nas suas vidas. Mas à medida que a doença de Anne foi se agravando,  percebe-se que George, que se mostrava amoroso e atencioso, começa a perder o controle. Em determinado momento agride fisicamente Anne, em outro momento se indispõe com a enfermeira que prestava cuidados a sua esposa.
O comportamento de George, deve nos alertar para situações onde o familiar, principalmente idoso, se torna o “CUIDADOR PRINCIPAL” por opção ou por não ter alternativa. Em geral se tratam de cuidados que se prolongam por um longo período.  Estamos falando de cuidar de alguém que amamos, no caso do Filme, uma companheira de longa jornada.
Cuidar de alguém a quem amamos vinte e quatro horas por dia, por um tempo muito longo, causa desgaste físico e emocional. Ver aquela pessoa a quem amamos indo embora de forma lenta e indigna, é doloroso. Afloram sentimentos muitas vezes contraditórios, desejo de ser livre novamente, ter tempo para si, voltar a viver, fazer atividades que tragam o prazer de viver, ao mesmo tempo o medo da perda, constatação da sua impotência diante da doença, raiva por se sentir abandonado por aquela pessoa que trilhou um caminho do seu lado, tristeza de ver planos desfeitos, a percepção das próprias limitações, toda esta situação que esta vivenciando remete a própria finitude, a seus próprios medos.
Diante deste quadro podemos questionar até onde é suportável abrir mão da própria vida, da liberdade de ir e vir, abdicar de si para se dedicar integralmente ao outro, mesmo que este outro seja sua companheira de uma vida toda. Quando George sufoca Anne com o travesseiro, a pergunta que fica é será que ao tirar a vida de Anne, estava George atendendo uma suplica, um desejo da esposa?  Ou todo o envolvimento emocional lhe deixou frágil e vulnerável a ponto de perder a noção de até onde temos o direito de ir?
Este filme talvez possa ser um alerta no sentido de estarmos atento, a sociedade e principalmente a família para a questão de um idoso cuidando de sua companheira, também idosa e necessitando de cuidados especiais. Não se trata de dispensar o cuidado que este idoso tem com sua esposa, o carinho que dedica a ela, mas trata sim de supervisionar, dar apoio, se responsabilizar por toda logística que se faz necessária desde os cuidados com medicação, alimentação, higiene pessoal da pessoa que esta enferma, assim como a limpeza da residência, a compras que necessitam ser feitas, higiene das roupas pessoais, de cama, mesa e banho, da preparação dos alimentos e não só daquele que esta doente, mas do idoso que esta prestando cuidado.
Este filme também pode nos fazer pensar numa das grandes dificuldades que enfrentamos ao envelhecer: “Reconhecer nossas limitações” e aprender a dividir o fardo, abrir espaço, pedir e aceitar ajuda do “outro”, que poder ser um familiar, um amigo ou da própria comunidade.
Faz-se necessário também que a família e a sociedade como um todo estejam atentos as necessidades daqueles que envelhecem a nossa volta, estando disponível na medida do possível, prestando auxilio que podem vir das mais diversas formas, ajuda essa que pode ser física, financeira ou de apoio emocional. Para que essas ações se façam presentes necessitamos construir ao longo da vida relações de amizade, carinho e respeito pelas pessoas com as quais convivemos. Sabemos tratar-se de uma tarefa árdua, mas não impossível.

Silvia Regina Medeiros Zuffo – Especialização em Psicóloga Clinica –
CRP 07/16912

Um comentário:

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